quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Projeto "o meio ambiente agradece vira noticia"

esta materia saiu no Jornal Pagina 20 no dia 13 de maio de 2007, veja a materia

Projeto que nasceu em escola ganha as ruas pela conscientização ambiental

Óleo de cozinha é um dos grandes responsáveis pela poluição dos rios e do lençol freático. Apenas um litro contamina um milhão de litros de água
Alunos vão às ruas falar dos danos causados pelo óleo de cozinha
Andréa Zílio e Marcos Vicentti
Água e óleo não se misturam. Vida e poluição também não. O homem, porém, parece não ter aprendido isso ainda, apesar de a natureza já dar sinais de sofrimento em conseqüência das ações do ser humano. Estudos são apresentados com freqüência mostrando o quanto elas representam uma ameaça ao ambiente.
A simples ação de jogar o resto do óleo de cozinha no ralo da pia ou no fundo do quintal, por exemplo, pode estar poluindo até um milhão de litros de água. Uma atitude que faz parte do cotidiano de milhares de donas de casa e tem um efeito devastador.
Foi conhecendo essa realidade da Grande São Paulo, por meio de uma pesquisa divulgada pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de SP, de que 90% das donas de casa da metrópole jogam óleo de cozinha na natureza, que o jornalista e professor Jorge Braun decidiu agir para trabalhar a questão em Rio Branco.
Ele começou ouvindo 100 donas de casa no Terminal Urbano da cidade e constatou que 85% delas jogam o óleo no ralo da pia, e os 15% restantes jogam no quintal da casa, ou seja, o produto vai direto para os rios e lençol freático, contaminando ambos. Triste com o resultado, Braun buscou saber da realidade no Acre e colheu dados da Secretaria da Fazenda (Sefaz) de 2005, de que 17 milhões de litros de óleo de soja entraram no Estado para ser consumidos. O professor diz que 60% desse óleo deve ter tido o mesmo destino - o ralo da pia e o quintal das casas.
Formado em biologia e com a necessidade de realizar atividades em prol do natureza, Braun resolveu agir e criou um projeto multidisciplinar, que envolve as disciplinas de física, química, biologia, português e sociologia, com seis turmas de alunos da escola Heloísa Mourão, aproximadamente 400 pessoas. Durante quinze dias, o professor e estudantes trabalham no Terminal Urbano, informando a população sobre os males causados pelo óleo ao ambiente. A experiência provou que muita gente comete erros, e poluem por falta de informação e por não saber como cuidar do lixo que produz.
Mas as ações não poderiam ficar somente na distribuição de informação, segundo Jorge Braun, que argumenta: “Não adianta apenas dizer o que não se deve fazer, mas também mostrar uma opção do que fazer”. Hoje ele e os estudantes também recolhem o óleo que seria jogado na natureza. Ousado, vai mais longe, quer dar um destino final ao óleo coletado, que pode ser transformado em sabão ou biodisel, e deseja ampliar o projeto para todo o Estado. O biólogo mostra que não está sonhando demais, acreditando que tudo o que planeja em seu projeto, é possível se houverem pessoas interessadas e preocupadas com o meio ambiente.
Uma união que gera atitudes de efeito
Junto aos estudantes da escola Heloísa Mourão, Braun fez o projeto ganhar destaque, e conseguiu multiplicá-lo para a escola Alcimar Leitão, envolvendo mais de 500 alunos, e o Colégio Estadual Rio Branco (Cerb), com mais de 1 mil e 800 alunos. Estes últimos têm o propósito de realizar um grande arrastão de coleta de óleo no bairro Manoel Julião.
Apenas com o trabalho de informar a população, o professor diz que se conseguiram conscientizar uma de cada 20 pessoas que tenham conversado isso já terá um bom efeito, por isso, ele precisa continuar com o trabalho e necessita de mais material de divulgação. Esse trabalho rende um custo de R$ 2 mil mensal, um valor pequeno comparado ao efeito.
Os alunos que participam do trabalho se sentem entusiasmados com a experiência, e contradizendo os muitos comentários feitos à Jorge Braun, de que eles são adolescentes e jovens que não se envolveriam no projeto, todos mostram bastante engajamento na causa. Ingrid Gomes, 17, está na terceira série do ensino médio, e fala que sua preocupação com a natureza se resumia aos pensamentos, jamais atitudes. “O bom de tudo é você repassar uma informação e ela ser aceita por outros, fazendo parte de uma atitude que gera uma mudança maior no mundo. Estou gostando muito do projeto”, diz.
Mesmo tendo concluído os estudos no ano passado, Daniela Oliveira, também de 17 anos, continua atuando na iniciativa do professor. “Antes do projeto eu não tinha qualquer visão sobre a questão ambiental, não me preocupava, e fiquei surpresa com tudo que o professor ensinou. Agora existe em mim uma preocupação com o meio ambiente e quero poder fazer algo para mudar o que está errado”, comenta a estudante.
Mais que conscientizar: é preciso solucionar o problema
Informar é um bom começo, mas não a solução, segundo Jorge Braun. Por isso, a coleta do óleo soou como um segundo e importante passo no projeto. Jorge Braun conta que os estudantes, sem estrutura, vão até as casas ou recebem na própria escola, em garrafas peti, óleo de donas de casa e até de pequenas empresas, como panificadoras, e armazena ali, em tamburões doados por alguns poucos parceiros do projeto, são eles: Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac), secretaria municipal de Meio Ambiente (Semeia), Departamento Estadual de Água e Saneamento (Deas) e Serviço de Águas e Esgotos de Rio Branco (Saerb).
O trabalho que ainda está sendo nos moldes “formiguinha”, já tem êxito. A empresária Didi Caele, dona de uma panificadora e ex-professora, conta que sempre foi engajada na questão ambiental. Quando conheceu o projeto do colega se dispôs a colaborar, e a cada 15 dias fornece mais de 15 litros de óleo, que são restos da produção e seriam destinados ao lixo. Didi fala que para não jogar no rio ou no solo, sempre procurou pessoas que fabricam sabão para doar, inclusive, ensinava algumas a confeccionar para que pudessem trabalhar o óleo e ter também uma fonte de renda.
“Muitas vezes, sem ter para quem dar, tive que colocar o óleo em vasilhames para serem levados pelos garis, algumas pessoas passavam em frente à panificadora, jogavam o óleo na rua e levavam os depósitos. Uma das dificuldades é a de não sabermos o que fazer com essa sobra. O bom desse projeto, é que ele está tentando solucionar isso pra gente. Dou graças a Deus pelo trabalho que esses meninos vêm fazendo”, comenta a professora.
Uma luz em um caminho escuro
Coletar o óleo ajuda, porém, o que fazer com o material coletado? Em busca de respostas, o professor Jorge Braun buscou alternativas. Ele e os alunos estão esperando que sejam completados 400 litros de óleo para encaminharem à Fundação de Tecnologia do Estado do Acre (Funtac), que fará um estudo a respeito do material. A expectativa é de que a fundação dê um laudo ao projeto, confirmando que esse óleo coletado em Rio Branco poderá ser usado na fabricação de sabão ou de biodisel.
“A Funtac, inclusive, tem uma fábrica de biodisel instalada, com previsão para funcionar daqui a dois anos, porque ainda está plantando alguns componentes para a fabricação do mesmo, com o óleo coletado nós anteciparíamos isso, mas a fundação não pode fabricar para comercializarmos, então isso seria só o início dessa etapa”, diz Braun.A idéia do professor é de que depois, governo, prefeituras e empresas possam instalar em Rio Branco a estrutura necessária para trabalhar o óleo como sabão ou biodisel. A solução envolveria posteriormente os demais municípios do Estado, em que uma coleta, assim como a do lixo, poderia estar sendo feita exclusivamente para o óleo. Segundo Braun, esse projeto é o que se pode incluir em desenvolvimento sustentável, porque gera renda e preserva a natureza. O professor diz que suas propostas parecem ousadas demais e acredita que seja totalmente compreensível e viável realizá-las, e por mais que não consiga apoio para continuar, garante que o fará com ajuda dos estudantes e da população que aderiu a causa. “Esse projeto é uma paixão, não vou desistir, nem que para isso seja necessário eu continuar no trabalho de formiguinha, batendo de porta em porta”, comenta.
Saiba mais - A água e o óleo não se misturam - o óleo é mais leve e fica na superfície da água impedindo que os raios solares penetrem no ambiente aquático. Assim as plantas não produzem oxigênio e a água apodrece matando as plantas e os peixes.
Todo o óleo de cozinha que vai para os nossos rios e igarapés pode comprometer no futuro o nosso abastecimento de água. O planeta Terra tem 65% de água, mas somente 0,3% está disponível para o uso humano e dos animais.
Você pode ajudar
A partir de hoje você pode colocar o óleo em vasilhames (vidros ou garrafas PET) e quando estiver cheio você deverá colocá-lo junto com o lixo normal para ser levado ate o aterro sanitário. Isso não resolve, mas alivia o problema.
Esse óleo de cozinha serve como matéria-prima para a confecção de sabão e sabonete caseiros. Ou você pode deixar em uma das escolas envolvidas no projeto, e até mesmo ligar para Jorge Braun, que coletará o material em sua residência. O telefone é (68) 9998-6929. Uma campanha de preservação da vida!
http://www.pagina20.com.br/13052007/especial.htm

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