Borracha acreana é utilizada em sapato orgânico na França | | |
Texto: Tatiana Campos | Fotos: Angela Peres | |
05-Dec-2008 | |
Folha líquida defumada (FDL) agregou valor ao látex e melhorou a qualidade de vida do seringueiro "Passei um tempo vivendo da moto-serra porque o seringueiro ganhava muito pouco. Nunca sobrava para comprar um motor, um sapato. A FDL exige esforço, porque a gente investe muito tempo nesse processo e não pode abandonar os roçados. Eu já não tenho 20 anos e sinto dificuldades em dar conta de tudo sozinho. Mas a minha vida é cortar seringa, é o que eu gosto de fazer", revelou. Pajoca é um entre as dezenas de seringueiros da Reserva Extrativista Chico Mendes, em Assis Brasil, que assinaram contrato com a Veja - empresa de calçados - para entregar ao todo 10 mil quilos de látex transformado em FDL. A borracha é utilizada nos solados de tênis e botas fabricados exclusivamente com matéria-prima orgânica. O algodão empregado nos calçados é importado de produtores do Pará e os sapatos são vendidos em sete países da Europa a preços que variam entre R$ 150 e R$ 250. "Uma grande vantagem é que a borracha não é como o arroz e a macaxeira, por exemplo, que a gente precisa ir atrás de quem compre a produção. O seringueiro consegue vender tudo o que ele produzir. É só ter a borracha na mão que a gente vende", disse Pajoca. Seringueiros apostam na Folha Defumada LíquidaDe Araújo, como é conhecido o presidente da associação, reclama que falta melhorar as condições de transporte da borracha, os ramais que cortam a reserva e contratar uma pessoa encarregada de coordenar o trabalho. Apesar das dificuldades, ele não esconde as expectativas: "Se dependesse da minha vontade toda a população de Assis Brasil ia viver da FDL. Este processo foi a melhor coisa que aconteceu para o seringueiro, a borracha sai pronta para ser processada pela indústria, sem impurezas, e o seringueiro recebe um valor bem melhor pelo que produz", ressaltou. Os seringueiros tiveram contato com o processo de coagulação da borracha chamado de FDL através de pesquisadores da Universidade de Brasília (UNB), que entraram em contato com a Amopreab e a prefeitura de Assis Brasil demonstrando interesse em desenvolver o projeto no Acre. Os seringueiros compraram a idéia e receberam todo o material necessário para trabalhar com o processo. Em parceria com a Seaprof, os interessados participaram de um curso para aprender as novas técnicas de processamento do látex. A primeira venda foi intermediada pelos pesquisadores da UNB. "Mas esse não é o papel deles. Depois tivemos contato com uma empresária do Rio de Janeiro, a Bia Saldanha, que acabou intermediando o contrato com a Veja, a empresa de calçados da França", explicou De Araújo. Governo investe R$ 1,2 milhão na cadeia produtiva da borracha A borracha foi definida como uma das prioridades da cadeia produtiva do Alto Acre, na regional de Assis Brasil, ao lado da castanha e a da fruticultura. Em todo o Estado serão investidos R$ 1,2 milhões com recursos do Programa de Apoio às Populações Tradicionais e Pequenos Produtores, o Pró-Florestania. O objetivo do programa é apoiar populações tradicionais e agricultores familiares visando melhoria na qualidade de vida com o uso sustentável dos recursos naturais. Na área temática de Fomento da Cadeia Produtiva foram apresentados e aprovados 11 projetos relacionados à borracha. O objetivo é a produção e comercialização de borracha na forma de folha defumada liquida nos municípios de Feijó, Marechal Thaumaturgo, Rio Branco, Manoel Urbano, Assis Brasil e Tarauacá. Serão beneficiadas 194 famílias e os recursos serão gastos com material de uso para recolhimento e armazenamento do látex, capacitações para produção de FDL e gestão de negócios. "Borracha será o produto mais caro da Amazônia", diz Cosson"Em 20 anos a borracha será o produto mais caro da Amazônia. As estimativas indicam que em no final de 2009 o preço do quilo poderá ser comercializado por R$ 12. Isso vai trazer de volta para a floresta os seringueiros que deixaram de acreditar no potencial do látex e tornar o desmatamento inviável", comentou. |
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